quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Sensação de (IN) segurança que atinge a todos nós...

Autor: Alexandre Flecha Campos - Gestor e Especialista em segurança pública.                                  Contatos: blog: flechaartigos.blogspot.com.br  email:flechablog@gmail.com
Com a criminalidade em plena expansão descontrolada no Brasil a sociedade em geral vem se tornando vitima deste fenômeno num quadro cada vez mais complexo. A banalização da violência atingiu um patamar significativo e desafiador para todos aqueles que direta e/ou indiretamente lidam com este cenário deixando as autoridades públicas em “cheque”, e sobrevivendo de ações imediatistas e reativas ao invés de adotarem projetos permanentes, efetivos e proativos em curto, médio e em longo prazo capazes efetivamente de atuarem na raiz do problema.
Não é necessário apresentarmos dados estatísticos sobre a situação crônica em que se encontra a segurança pública no cenário nacional, basta assistirmos o que a mídia televisiva, escrita e as redes sociais “on line” relatam sobre a violência que nos cerca diuturnamente enquanto acompanhamos alarmados e pacificamente todas as demandas de variados tipos de agressões violentas cada vez mais próximas e ao alcance de todos.
É muito triste, lamentável e danoso para o país constatarmos que entre as vítimas da violência estão presentes uma significativa parcela de cidadãos em plena idade produtiva que tem suas atividades abruptamente interrompidas seja pelo fatalístico destino dado pela agressividade de um trânsito caótico, ou vitimado por qualquer das diversas modalidades de crimes contra a pessoa e/ou o patrimônio, baixas estas registradas em maior monta no Brasil do que na maioria dos conflitos bélicos internacionais.
A indústria do crime urbano tem assumido a característica cultural de um meio econômico de vida em sua multiplicidade de ações agravando-se pelo requinte de vulgarização de ações violentas, como, por exemplo, presentes nos conflitos interpessoais que resultam em lesões corporais graves; nos homicídios; nas ações de grupos de extermínio a serviço do crime organizado; em assaltos a pessoas resultando em latrocínio; nos crimes contra a ordem econômica; nos roubos a residências e a estabelecimentos comerciais; em sequestros, que em boa parte vem sendo retroalimentados e articulados pelo tráfico de drogas e armas agregando uma dose extra à violência.
Ademais, apesar do quadro crítico em que vivemos é possível minimizar a nefasta consequência da criminalidade deixando o cidadão de se expor na condição passiva de tornar-se um sujeito vitimado por um crime, para uma atitude proativa a partir de seus hábitos e comportamentos que podem influenciar fundamentalmente quanto à ocorrência ou não de uma ação criminosa por parte do infrator da lei.
 Existe, portanto, uma enormidade de recomendações ao cidadão no sentido de agir preventivamente com relação a sua rotina de vida, evitando situações e grupos de risco das mais variadas ordem, como por exemplo, evitar a ostentação de bens e valores, não frequentar locais de risco, colaborar e se aproximar da polícia e da comunidade a que pertence no sentido de criar uma rede de segurança aos moldes da polícia comunitária, entre muitas outras ações.
Por outro lado, apontam-se as instituições de segurança pública, em especial a polícia, como sendo a única e principal responsável pelo aumento da criminalidade, com o pensamento simplório de que a violência deva ser combatida exclusivamente por via da força, ao mesmo tempo em que, paradoxalmente, quando este uso da força é considerado abusivo volta-se a imputação de culpa aos integrantes dos órgãos policiais em questão. Até que ponto não haveriam outros fatores que contribuem para a realidade de autofagia da raça humana estampada pela mídia, agindo no seio da sociedade?
Se buscarmos ao enunciado do art. 144 da Constituição Federal, a segurança pública é dever do Estado e direito e responsabilidade de todos o que leva ao entendimento de que o cidadão também possui sua parcela de responsabilidade, em parceria com as autoridades governantes no que tange a preservação da integridade física e patrimonial no âmbito da comunidade.
A polícia, a exemplo de qualquer outra instituição, recruta seus integrantes oriundos da sociedade a que pertence sendo esperado que este profissional seja possuidor de uma personalidade bem definida, contando com uma preparação especialíssima que contemple a administração de problemas e gerenciamento de crises para uma tomada de decisão satisfatória sob a ótica da legalidade, ética e profissionalismo para a lida diária em seu complexo ofício de prestar serviço de segurança pública.
No entanto, o policial, tradicionalmente é focado no combate aos efeitos externos da criminalidade de modo que não ocorre o enfrentamento das causas que levam a infração da lei, cuja origem remonta em múltiplos fatores tais como a ineficiência da aplicação das leis punitivas acompanhada da reincidência delituosa; a falência do sistema penitenciário; os grandes bolsões de miséria gerando grupos vulneráveis; falha no processo educativo e cultural responsável diretamente pela prevenção desde a fase da infância a da adolescência; prática de crimes de corrupção; violência doméstica na infância comumente reproduzida na fase adulta; deficiência de fiscalização ao tráfico e controle de armas e drogas sob a justificativa da grande extensão territorial do país, aliada a audácia e ao requinte de crueldade de algumas ações por parte de alguns criminosos motivada principalmente pela certeza da impunidade.
Outro dado importante que por vezes passa despercebido pela grande maioria da opinião pública está nas elevadas “baixas” dos integrantes do segmento policial, seja por lesões graves permanentes, óbitos ou envolvimento em procedimentos judiciais desnecessários, o que leva a um grupo de risco contra sua própria segurança diante desta insana escalada de violência urbana.
Assim, as instituições policiais brasileiras têm experimentado, com mais veemência nos últimos tempos, inúmeros casos reais de confrontos (armados ou não, envolvendo policiais em serviço ou de folga), em resposta a agressões de toda ordem provocadas por criminosos, o que tem gerado baixas significativas nos quadros policiais e ainda, registro de “balas” perdidas vitimando também pessoas inocentes da sociedade. Em especial, prejuízos irremediáveis ao Estado, às instituições policiais, à sociedade e em última instância a classe de policiais brasileiros e suas famílias.
Seja no caso de um cidadão comum, ou de um profissional de segurança, a exemplo do policial em seu momento de folga, a sensação de estar seguro está na objetividade do risco real que estatisticamente possa ser mensurado a partir do número de vítimas registradas e divulgadas oficialmente, ou ainda, em outro viés, na percepção de segurança num âmbito mais subjetivo que está intimamente ligado ao fato do “temor” individual ou coletivo de se tornar vítima em potencial.

De qualquer forma o que mais contribui para a sensação de (in) segurança está na propagação da informação em tempo real por meio digital e mais efetivamente pela mídia somando-se à percepção social e, portanto, coletiva depositada sobre o sistema de segurança pública, no que diz respeito à capacidade de se dar resposta através de uma prestação de serviço que garanta efetivamente o cumprimento do papel constitucional da preservação da ordem pública, minimizando e estancando definitivamente os graves efeitos negativos da epidemia de criminalidade que assombra o país. Sobreviver é preciso!!!  

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