Autor:
Alexandre Flecha Campos é mestre em educação e especialista em docência
universitária.
Após um longo período de regime de exceção, e com o
advento da CF de 1988, a sociedade brasileira vem experimentando, mesmo que de
forma lenta e gradativa, uma série de mudanças e conquistas no âmbito da
convalidação de sua democracia, e, com esta, a possibilidade de rompimento de
paradigmas e preconceitos, seja de maneira espontânea e informal, seja
traduzida em mecanismos formais e regulamentadores como no caso de Leis,
Diretrizes, Tratados, Portarias, etc, a reboque dos crônicos problemas de ordem
cultural peculiares da sociedade brasileira...
No campo da educação, esta se apresenta eivada de
deficiências de toda ordem, as quais são evidenciadas através de pesquisas
estatísticas. Com o passar de décadas, a matéria tem apresentado tímidas
melhorias, mas os resultados no ranking de avaliações internacionais são
inexpressíveis se comparados dos da comunidade dos demais países do mundo.
Nesse sentido, o Brasil carrega uma triste dívida
histórica e clama por um progresso no campo educacional tal, que seja capaz de
promover o rompimento do gargalho, bem como possibilite gerar um avanço
consistente na área, que reflita na qualidade de vida do povo brasileiro.
Vale ressaltar o grau de importância e contribuição que
de fato se extrai na influência midiática, por via dos meios de comunicação, e
como a televisão traz impactos positivos ou negativos quando se trata da
inclusão da educação na sociedade brasileira que histórica e prioritariamente
tem servido à seleta elite de uma classe dominante, formando um ciclo vicioso
que acaba por favorecer a manutenção das enormes diferenças entre os níveis
sociais.
Ações de fomento à educação e cultura de iniciativa da
televisão brasileira como os telecursos, programas culturais e informativos,
entre outros, possuem espaço muito restrito e ínfimo se comparado ao tempo
destinado aos poderosos interesses comerciais expressos por campanhas de
merchandising por parte de patrocinadores privados, além das propagandas de
cunho político eleitoreiro por parte do governo e da classe política, de modo
que a mídia brasileira tem deixado muito a desejar quanto à parcela de
responsabilidade de contribuição social.
No que tange ao reality show no sistema televisivo no
Brasil, programa originalmente surgido em país Europeu (produtora holandesa – Endemol,
BBB), e posteriormente reproduzido pela rede Globo no formato do BBB (BIG Brother Brasil), pela emissora
TV Record sob o título de A Fazenda,
ou ainda pela TV SBT com a denominação de Casa
dos Artistas, apresentam-se sob o “rótulo” de um jogo que dá a oportunidade
"democrática" de participação de uma amostragem da sociedade
brasileira, minuciosa e estrategicamente selecionada pelos bastidores das
emissoras. Nesse aspecto, chama-nos a atenção algumas das repercussões
desenhadas pela trama na formação intelectual e moral dos indivíduos
participantes, algo que nos incita, portanto, a algumas reflexões no que diz
respeito a traçar um paralelo entre a influência deste tipo de entretenimento e
a ênfase cultural característica da sociedade brasileira.
Podemos citar, igualmente, alguns fenômenos intrínsecos
ao cotidiano dos brasileiros, que dão um campo fértil e se aliam para o sucesso
destas modalidades televisivas de reality show no Brasil: o consumismo
desenfreado, o imediatismo, a busca da fama meteórica, a alienação, a
possibilidade de se obter lucros milionários, o culto e vulgarização do sexo e
a exposição de corpos sarados, o baixo nível cultural e educacional de grande
parte dos telespectadores. Todos esses fatores parecem abrir um convite para a
prática do prazer pelo puro prazer, admitindo que os fins justifiquem os meios.
Simples assim.....!
Não há constatação de qualquer forma de benefício direto
ou indireto para a educação e cultura brasileira proporcionado pelo reality
show televisivo adotado no Brasil, não obstante o Código Brasileiro de
Telecomunicação (CBT) dispõe que a televisão se propõe a atender a função
educativa, cultural e informacional, e ainda estimular à prática esportiva, a
música, a criatividade, sem deixar de lado a atuação no campo da reflexão sobre
o valor, a ética, a moral e os bons costumes.
Ademais, prevê o CBT o limite máximo de 25% da grade de
programação para veiculação de publicidade, o que é burlado pela estratégia de
marketing do reality: Os “heróis” são usados para produzirem propaganda das
empresas patrocinadoras por tempo integral via mensagens, sendo que estas
muitas das vezes são repassadas de forma subliminar. Assim, lucros expressivos
têm sido gerados em benefício das emissoras de televisão e seus aliados patrocinadores.
De acordo com a divulgação do site da UOL, somente o BBB
atingiu a cifra aproximada de 500 milhões de reais a cada edição. Um bom lucro
para tanta futilidade em tão pouco tempo, e em horário nobre da televisão, não
acham...!?
Tomando partido da sociedade brasileira,
veremos que o jogo televisivo de reality show resultante de um longo
confinamento humano se consolida, em última instância, num entretenimento cujo
legado é de alienação, futilidade, imaturidade, e, sobretudo, de omissão no
cumprimento do papel social da TV aberta brasileira, agindo em desserviço da
nação frente às enormes desigualdades sociais, representando uma verdadeira
afronta à inteligência daqueles que almejam dias melhores para a educação e
cultura deste país. Se liga Brasil........