domingo, 22 de maio de 2011
sexta-feira, 20 de maio de 2011
sábado, 7 de maio de 2011
quarta-feira, 4 de maio de 2011
O SIGNIFICADO DO “TIRO” NA MINHA VIDA..., por Ten Cel FLECHA. TC Flecha
TC Flecha simplesmente figura-se como um referencial de moral, decência e honra nessa PMGO. Tenho que destacá-lo nesse blog, pois trata-se de um dos maiores expoentes que essa Instituição ainda possui.
Partindo da visão que tenho nos dias atuais, e recorrendo à memória descrevo um breve histórico de tudo que fora elaborado, produzido, avançado, maturado e o significado do resultado desta longa jornada em minha vida, seja ela profissional ou pessoal. Aproveito esta oportunidade para relatar um pouco sobre os meus 30 anos na lida com as atividades ligadas ao tiro, parte destas informalmente exercitadas durante a infância, outra em decorrência da prática do esporte, e ainda utilizadas na profissão de policial militar, que de corpo e alma abracei. Compartilho algumas experiências que com certeza ficarão guardadas para sempre na minha memória e daqueles que deram a honra de participarem deste processo de aprendizagem.
Lembro-me de que desde muito cedo em minha vida estiveram presentes no convívio familiar, questões tais, como: tiro, arma de fogo, equipamentos, munições, etc. Não poderia ser diferente, pois uma vez que meu pai, o TC R/R PMGO Colemar Elias Campos, já seria o precursor desta experiência, pois sem sombra de dúvidas, além de se tratar de um exímio atirador e instrutor de tiro por anos seguidos dedicados à PMGO, ainda carregava como principais características o idealismo e a paixão pela corporação em especial pela atividade que exercia, norteado por rígidos valores éticos e morais dignos de serem seguidos.
Ainda na primeira década de minha vida, quando percebeu minha aptidão para o tiro, meu pai me ensinou a principal lição, que guardo até hoje: “.....filho, se tens curiosidade, e se queres conhecer sobre o assunto, me acompanhe até uma linha de tiro e receberás as primeiras lições de educação para o tiro...” Foi desta forma, tendo aceitado o convite, é que me incluí de vez nessa longa jornada sempre procurando aprender a lidar com questões atinentes ao assunto, como por exemplo as atividade do tiro esportivo e policial e, mais recentemente pela defesa pessoal, gerenciamento de crise e pela doutrina do uso da força policial, entre outras.
Logo percebi uma vocação natural (um dom), que me levou no início da década de 80 a participar do I Campeonato Goiano Infanto-juvenil de tiro de precisão com ar comprimido (carabina e pistola) patrocinado pelo primeiro clube de tiro do Estado, projeto este, de autoria de meu pai, sediado nas instalações da linha de tiro (Tiródromo) do Autódromo Internacional de Goiânia. O fato é que em um ano de competição sagrei-me campeão em quase todas as provas num universo aproximado de trinta competidores na grande maioria filhos de atiradores. Um dado importante é que a minha principal característica como atirador é a de ter uma personalidade um tanto quanto perfeccionista, talvez por influência da educação (busco continuamente o aprimoramento, uma busca interior em mim mesmo e não focada no adversário, o que sempre me gerou grande concentração, perseverança e objetividade no desempenho das provas). Daí, registro outra grande lição de meu pai: “(...) o mais importante está no ato de competir com ética e senso desportivo, a derrota é solitária e demanda força para a auto-estima, enquanto que a humildade é fundamental na vitória”.
Anos mais tarde, em 1987 acabei por me incluir nas fileiras da gloriosa e centenária corporação polícia militar de Goiás - PMGO como aluno do curso de formação de oficiais - CFO. As atividades tomaram uma conotação profissional, pois o tiro estava presente no conteúdo programático das disciplinas ligadas ao curso, além de evidentemente possuir uma importância ímpar para o serviço operacional para o qual o curso visava nos preparar. Iniciou-se minha etapa como profissional de segurança pública, tendo como primeiro tutor na época o saudoso CEL RR Alquino “em memória” para a disciplina de tiro policial. Guardo com especial carinho a lembrança dos 34 companheiros de curso e dos mestres que possibilitaram que nos mantivéssemos unidos diante do enorme desafio de galgarmos a formatura no dia 11 de junho de 1990.
Durante o longo e exigente período de três anos de curso (1987 a 1990), houve inúmeras instruções e atividades desportivas envolvendo o tiro e o Karatê nos quais me orgulho de lembrar que galguei a nota máxima e resultados expressivos nas competições, sem qualquer esforço extra de treinamento ou preparação prévia. Foi quando ficou mais evidente para mim que de fato tratava-se de certa “Habilidade” e que isso poderia auxiliar para a aplicação nas missões futuras, como por exemplo as atividades operacionais nos estágios ainda aluno e em seguida como oficial subalterno, Comandante do Policiamento Urbano - CPU e por que não dizer por toda minha vida profissional. Lembro-me com carinho dos mestres sensei Osvaldo de Mendoça Jr. e sensei Luís Carlos de Abreu, presentes tanto no mundo civil, como na Academia de Polícia Militar durante o curso CFO, e responsáveis diretamente pelo sucesso de minha trajetória dentro da arte do Karatê. Lembrando o criador do Karatê: “A vida é uma luta, e é preciso lutar para viver” – G. Funakochi
O dia “D” não demorou muito por vir, qual seja ser colocada à prova a minha aptidão para o tiro defensivo o que ocorreu ainda durante o período de aluno do CFO, nos anos de 1989 a 1990, durante duas ocorrências que envolveram troca de tiros e em que fui bem sucedido nos respectivos desfechos. Minha postura fora digna de elogio e registro em minha ficha individual que relata mais detalhadamente o ocorrido no confronto armado foi decretada a prisão em flagrante dos criminosos, sem, contudo, haver necessidade de gerarem lesões mais graves para o agressor e muito menos para os policiais militares envolvidos. Mesmo considerado um neófito para o serviço operacional na PMGO, as experiências precoces nos apontaram que a técnica poderia estar a serviço da segurança pessoal mantendo-se o devido controle sobre o estresse, e com isso facilitando a tomada de decisões durante o calor da ocorrência.
Recém formado no CFO e ainda no posto de Aspirante a Oficial no ano de 1990, devido a um resultado como campeão numa prova de tiro promovido pela PMGO nas instalações do Batalhão de Choque contra adversários veteranos, acabei por me credenciar a um convite para participar como componente da equipe da PMGO no I Campeonato Nacional de Tiro Policial ocorrido no mesmo ano em Brasília, no DF, na Academia Nacional de Polícia, o que por sua vez representou para mim um significativo ganho de experiência no campo do tiro esportivo e a abertura para o cenário nacional. Trouxemos o título de campeão em carabina na modalidade de silhueta metálica pelas mãos do então Capitão Sidney.
Um dos desafios que tomei para mim após a formatura no Curso de Formação de Oficiais – CFO, e declarado aspirante a oficial, fora o de mesmo não possuindo naquela época curso específico de instrutor de tiro, pois não existia na corporação, assumir a responsabilidade de atuar na instrução do efetivo em todas as unidades que servi. Isso porque percebi a grande carência existente de instrução de manutenção, para melhor se qualificarem para o serviço policial, em especial na lida com arma de fogo.
A partir daí, houve inúmeras representações individuais e por equipe em competições esportivas de tiro em vários locais do Estado e do Brasil, o que possibilitou o ganho de experiência e acabou por desenvolver outra aptidão: a de organizador de torneios de tiro no âmbito interno e externo da corporação. Assim foram realizados inúmeros eventos (olimpíadas da segurança pública, Olimpol, jogos internos da APM e CFAP, Torneio aniversário de Goiânia, Torneio em datas comemorativas, Torneio aniversário da PMGO, e Circuito de tiro, entre muitos outros). A exemplo disso temos o Circuito de Tiro da PMGO encontra-se em sua VIII edição, e cujo objetivo maior é de promover congraçamento, treinamento e através de inúmeras modalidades enaltecer o atirador mais completo a partir de um ranking com categoria A e B. Vale ressaltar que permaneço em primeiro no ranking desde que fora criado até os dias atuais tendo sido campeão em sete edições e conquistando mais um vice campeonato, tudo isso, acreditem, sem treinamento extra. Registro a participação entre inúmeros atiradores o do Major Célio Pereira Bueno, maior adversário esportista do tiro que já tive no âmbito da corporação, competidor ético e desportista, e para mim, o melhor atirador da modalidade de IPSC que a PMGO já teve.
No ano de 1992 fui designado para freqüentar o prestigiado curso de moto mecanização promovido nessa ocasião pela escola de material bélico vinculado ao Exército Brasileiro na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Lá, tive a oportunidade de estruturar com propriedade ímpar toda a fundamentação teórica e prática a respeito de manejo e manutenção de material bélico, em especial armamentos e munições leves destinadas ao trabalho policial. No curso tive a companhia de alunos oriundos de policias militares e bombeiros militares do Brasil e de países latinos e como resultado dessa experiência elaborei um vídeo instrutivo denominado: “Noções de armamento e tiro policial” filmado nas instalações da linha de tiro do 1º BPM.
Diante destas considerações devo registrar minha passagem pela seção de armamento situada na Diretoria de Apoio Logístico DAL no ano de 1994, como subchefe da seção e já anunciado como futuro substituto do lendário major Sidney Bezerra um dos melhores atiradores de precisão que já conheci, e, sobretudo um mestre: sagrou-se campeão brasileiro em silhueta metálica no I Campeonato de tiro Policial, entre inúmeros outros títulos, respeitado no mundo civil, militar e policial militar, além de ser um profundo conhecedor da área do tiro, de recarga de munições e armamento. O então capitão Sidney estava com seu tempo completo na caserna e havia cumprido sua missão com o aproximar de sua ida para a reserva. Confiou a mim a nobre responsabilidade de substituí-lo estimulando-me com o seguinte pensamento: “não se constrói um verdadeiro atirador e um instrutor de tiro da noite para o dia”. A partir do ano de 1994 estive revezando até os dias atuais entre a Logística da Divisão de armamento e a docência das unidades de ensino da corporação, ou seja, a operacionalidade, a logística, a doutrina e o ensino para mim sempre estiveram andando juntos. Nesse mesmo ano promovi o livro lançado com o título: “Breve comentário e considerações técnicas de tiro policial” com coautoria com meu pai o TC R/R Colemar.
Em 1996, sem sombra de dúvidas adveio meu maior teste como atirador e fui posto à prova, com a luta pela minha própria sobrevivência. Tal fato se deu numa noite de 05 de agosto quando fui surpreendido por 04 indivíduos armados que anunciaram um assalto empunhando arma de fogo de forma agressiva, deixando-me com a única opção de procurar me defender, apesar da evidente inferioridade numérica e de armas (de minha parte um revolver cal .38 e 04 quatro cartuchos, contra quatro agressores armados de revolver cal. 38 e Pistola 9mm). O desfecho se deu com dois agressores alvejados por mim, e na seqüência, fui alvejado por quatro vezes após me encontrar sem munição, o que me custou um longo período de recuperação. Com o episódio foi dado uma pausa ao “guerreiro”, que com certeza aproveitou para rever todos os conceitos e os perigos internos e externos inerentes ao policial militar. Não creio ter se tratado de um fato convencional, e ao acaso; guardo esta convicção para mim...
Desta experiência vivida no ano de 1996 restou-me a reflexão e a busca da aproximação e interação ente a teoria e a prática (já que a experiência vivida por mim além de real aproximou-se da letalidade). Também trouxe-me a inspiração para a formatação da seguinte doutrina: Os cinco pilares para o sucesso durante o confronto armado: 01) Um bom armamento/equipamento e munição; 02) aliado a um bom treinamento de ciclo completo; 03) focado no amparo do aspecto legal; 04) ligado nos princípios do elemento surpresa e nível de alerta; 05) associado ao aspecto fisiológico e psicológico com a administração do estresse para trazer uma certa segurança para o policial quanto a decisão solitária entre uma reação ou não com arma de fogo.
No período referente aos anos de 1997 e 1998, recuperado do embate ocorrido no ano anterior, voltei à luta e elaborei um trabalho monográfico durante a realização do Curso Técnico de Ensino pela APM, que apontou em pesquisa de campo, índices insuficientes de instrução de tiro policial e a falta de estrutura física e doutrina metodológica para tratar a questão, lançadas as sugestões de criação do Teste de Aptidão do Tiro – TAT; Departamento de Tiro, Instrução Itinerante, e Curso de Instrutor de Tiro - CIT, aos quais não foram acatadas de imediato apesar de terem sido considerados de suma importância para melhoria do quadro vivido de baixo adestramento em tiro por parte de grande parte dos integrantes da PMGO.
Ainda nos anos de 1997 e 1998 tive a grata satisfação de conhecer o ilustre mestre CEL R/R Nilson Giraldi oriundo da polícia militar do Estado de São Paulo, recém criador do “método Giraldi” que tive a oportunidade de consignar no trabalho científico, e a honra de atuar como multiplicador e desencadear o conhecimento para os integrantes da PMGO. Assim registrou o mestre Cel Giraldi. “Não basta saber atirar; tem que saber quando atirar e saber executar procedimentos” e justifica que, “na quase totalidade das vezes procedimentos, e não tiros, é que preservam vidas, a começar pela do policial, e solucionam problemas”. Ensina ainda que “Não basta saber o que tem que fazer; tem que estar condicionado a fazer”; “Quanto mais bem preparado o policial estiver para usar a sua arma de fogo menos necessidade sentirá em fazê-lo; mal preparado verá nela a solução para todos os problemas”.
No ano de 1999 fui designado para uma unidade escola, o Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças - CFAP situado no município de Senador Canedo/GO, para estruturar a linha de tiro e dedicar-me exclusivamente à atividade de docente como oficial instrutor de armamento e tiro. Anos mais tarde, com seu abandono institucional o CFAP deixou de existir e os alunos migraram-se para a Academia de Polícia Militar – APM, quando adveio a oportunidade de desenvolver significativamente a metodologia e a didática voltadas à instrução de tiro, aliada aos conhecimentos técnicos profissionais a respeito do armamento e equipamento que já possuía através de curso regulamentar na Escola de Material Bélico - ESMB.
A partir do ano de 1999 até os dias atuais ganhei um aliado incondicional nas causas da instrução de tiro, o Sgt Jânio S. Borges, profissional brilhante e de um caráter ilibado, cujo idealismo e disposição para de trabalho contagia a todos. Juntos a outros tantos companheiros iniciamos a construção da estrutura do que é hoje o Centro de Instrução da PMGO, que não pára de crescer e de se expandir, seja nas suas instalações, seja na importância de cumprir com a missão de qualificar os companheiros da atividade fim a prestarem um excelente serviço à comunidade.
Foi no ano de 2000 que iniciei um trabalho de padronização de instrução de tiro policial defensivo no âmbito da PMGO através da proposta de implantação do I Curso de Instrutor de Tiro ocorrida no ano seguinte em 2001, no entanto não havia ainda, nenhuma doutrina específica sobre o escalonamento do uso da Força, procedimento que só passou a ser implantado anos mais tarde com a formatação do POP em 2003. Como resultado do projeto foram realizadas até os dias atuais 06 (seis) edições do curso de instrutor de tiro com mais de 150 instrutores, que tive a oportunidade de coordenar e instruir, alguns desses profissionais oriundos de várias corporações co-irmãs, inclusive de diversas unidades da Federação.
Com a chegada dos anos de 2001/2002 ampliamos e melhoramos diversas linhas de instrução de tiro, somando-se a várias outras que foram construídas e/ou reformadas como nos casos da linha do 1º BPM, CFAP, APM, Tiródromo localizado no Autódromo Internacional de Goiânia, no Entorno do DF entre outras. Apesar do nosso engajamento e a necessidade de melhoria da estrutura, em muitos dos casos, por revés do acaso, muitas dessas obras se perderam por abandono das instalações ou por falta de manutenção. O que se revela preocupante, especialmente no que tange aos registros aqui feitos é que, de acordo com pesquisa de campo por mim realizada, constatei índices alarmantes de disparos de armas de fogo por motivos de Intimidação e/ou advertência no serviço operacional na PMGO cerca de 70%. Para nossa satisfação a margem do percentual de disparos fora minorada significativamente a menos de uma dezena nos dias atuais.
A partir do ano de 2003 tive uma participação como técnico na estruturação do Procedimento Operacional Padrão – POP oportunidade em que sugeri a inclusão do processo do Uso Escalonado da Força, representando o primeiro mecanismo regulatório do uso da força policial no âmbito da PMGO, e também em nível nacional. A preocupação se dava em razão de que os índices de disparos de intimidação e/ou advertência mantinham-se altos, acima de 60%. Iniciou-se a formação de uma mentalidade de doutrina comum entre os técnicos, multiplicadores e usuários do POP, o que culminou com a inserção deste processo de uso da força no Curso de Instrutor de Tiro (CIT); Ademais com a reedição do SINARM foi previstos como crime agravado de 50% da pena, em caso de agente policial, a hipótese de disparo em via pública, a exemplo dos tiros de intimidação e/ou advertência tão comuns naquela época no âmbito da PMGO, principalmente devido à cultura profissional e por falta de opções técnicas e tecnológicas disponíveis ao policial militar até aquela data capazes de mudar a realidade.
Ainda no ano de 2003, durante o curso de Especialização em Gestão em Segurança Pública – CEGESP pela APM, através de trabalho científico discorri sobre o tema: “A padronização do armamento no serviço operacional”, com o intuito de se dar uma contribuição à PMGO quanto à criação de um mecanismo técnico e norteador da utilização de armamentos e equipamentos no serviço operacional otimizando a logística quanto a critérios para a aquisição, distribuição e descarga de tais materiais bélicos. Sendo que depois de inúmeras reedições finalmente a proposta incluiu-se na corporação oficialmente, a partir do ano de 2011.
No ano de 2004 conquistei o titulo de campeão Brasileiro de tiro Policial nas modalidades de saque rápido e Tiro Policial de Defesa e na seqüência outros resultados importantes como premiações no goiano pistola production IPSC e no Copa Centro Oeste. Propomos um intercâmbio entre a Federação Goiana de Tiro com a PMGO incentivando a participação de policiais militares nas provas oficiais de tiro. Além do mais, foi aprovada nesse mesmo ano a proposta de minha autoria que resultou na Portaria 346/PM/1 regulamentando o porte de armas no âmbito da corporação PMGO em conformidade com o Decreto Federal nº 10.826.
Quando em 2005 participei de uma inédita comissão para avaliação de armamentos no âmbito da PMGO, o que representou um divisor de águas no que tange a dar descarga a um grande número de armas consideradas obsoletas, inseguras e inservíveis para o serviço operacional policial militar, já com mais de 20 anos de uso abrindo espaço para a escolha mais técnica de aquisição de armas, equipamentos, munições e coletes balísticos mais modernos e adequados ao trabalho policial. Vi um sonho dos tempos de Aspirante a ser realizado, quando na época por inúmeras vezes deparei com uma realidade de más condições de uso de boa parte dos armamentos e munições destinados ao serviço operacional, momento em que surgiu a vontade de se renovar tais armamentos e equipamentos em prol da segurança das equipes de trabalho.
Ainda no ano de 2005 apesar de ter assistido o abandono e a desconstrução de uma importante unidade de ensino, o CFAP, que perdura até os dias atuais, recebemos o benefício naquela mesma instalação da semente plantada do Paiol, buscada nas plantas de engenharia do Exército Brasileiro em Brasília/DF, que com duras penas foi incluída no orçamento do Estado de Goiás e finalmente erguida para a guarda segura de material bélico da corporação. Outro sonho conquistado sendo utilizado até os dias atuais pela Divisão de Armamento do Comando de Apoio Logístico – CAL. Ressalto a participação decisória neste processo, o do amigo Capitão Gerson Oliveira Pinho.
Finalmente nesse ano foi realizado a III edição do curso de instrutor de tiro – CIT, na qual tive a oportunidade de conviver de perto e perceber o valoroso idealista e guardião das tradições da centenária corporação, o então capitão Newton Nery de Castilho, que sem sombra de dúvidas deu um brilhantismo especial ao curso, mesmo na condição de aluno. Oficial íntegro e preparado, e representa para mim, além de um amigo confiável, também deposita uma grande esperança para a corporação, sendo que seu principal sonho é o de um dia conduzi-la no comando e, sonho este que, com certeza em se confirmando, fará com que a corporação esteja em porto seguro.
Não bastasse o abandono do CFAP, veio também por força de Lei Estadual a extinção da APM e em consequência, de todas as suas tradições de mais de 60 anos de atuação como a principal casa de ensino da corporação, que se transformou a academia em uma Gerência de Ensino subordinada a SAESP. Vale ressaltar que se manifestaram veementemente contrários à ação, publicamente e por escrito valorosos policiais militares idealistas e voltados ao ensino que juntamente a mim (então capitão Flecha), também exteriorizaram seus protestos, sendo eles o então capitão Célio, capitão Castilho, capitão Sanches, o capitão Deusdete “em memória”, Ten Jubé e Ten Henrique.
No início do ano de 2006 tive uma rica experiência em participar como aluno da 19ª Instrução de Nivelamento do Conhecimento (INC) da Força Nacional - FN, realizada no Estado da Paraíba/PB – João Pessoa, instrução coordenada pela Secretaria Nacional de Segurança Pública/SENASP. Nessa ocasião, devido ao bom desempenho alcançado nos exercícios de tiro policial, fui de imediato convidado para atuar como docente nas disciplinas armamento e tiro, escolhido dentro do universo aproximado de 400 PM/BM representantes de comissões de 24 Estados e do Distrito Federal, e incluído ao corpo de instrutores da Força Nacional.
Ainda em 2006 tive a rara oportunidade de buscar na fonte do conhecimento, na Escola Superior de Guerra – ESG, situada no forte de São João na cidade do Rio de Janeiro/RJ, o curso de Logística e Mobilização Nacional. Representando as instituições de segurança pública do Brasil diante das forças armadas nacionais e de oito países sagrei-me campeão na modalidade do tiro de precisão com arma curta a 25 metros, utilizando improvisadamente arma e munição emprestadas no local da prova.
Nos anos de 2007 assumimos o desafio de participar do projeto de criação do Centro de Instrução, com o objetivo maior de retomar as instalações do antigo CFAP situado no município de Senador Canedo/GO e promover a manutenção da instrução periódica a todo efetivo da corporação, além de dar apoio à APM nas instruções de natureza prático operacional ao ministrar oficinas práticas, dentre elas o POP. Uma das primeiras medidas fora anexar o histórico Tiródromo, construído pelo meu pai no início da década de 70 e situado nas instalações da APM, hoje agregado ao Centro de Instrução, para que servisse como base administrativa e de apoio. Por fim, em 2007 tive a experiência operacional de atuação a serviço da Força Nacional no Estado do Rio de Janeiro durante a operação “Divisa Integrada”, no ano das olimpíadas do Pan-Americano.
Em 2008 assumimos em definitivo o comando da unidade até os dias atuais. Outro sonho realizado, qual seja, o de ter certa autonomia para agir a partir de uma unidade de ensino independente, atuando em prol do ensino e da instrução da PMGO.
Houve uma participação em 2008 efetiva em comissões, aproveitando-me da oportunidade da data comemorativa dos 150 anos da gloriosa polícia militar de Goiás - PMGO para tratar de assuntos correlatos a instrução de tiro e uso da força, tais como: Teste de Aptidão de Tiro, instrução de manutenção de tiro, criação de clube de tiro Tiradentes, implantação do paintball na instrução operacional e regulação do Uso da Força no âmbito da corporação, todos apresentados na condição de palestrante no Fórum de debates ocorrido no centro de convenções em Goiânia no mesmo ano, os quais apesar de serem considerados viáveis, aguardam deliberação e investimentos para serem efetivados.
No ano de 2009 lanço a proposta de aplicação do Uso da Força com o uso de marcadores do tipo paintball em instruções (oficinas de vivenciamento), atrelada à instrução de tiro policial defensivo a todo efetivo da corporação. Dentro deste propósito passaram a ser realizadas instruções de manutenção, formação e/ou especialização a todo efetivo voluntário para a realização de oficinas de vivenciamento com o uso do marcador paintball registrado em um questionário do tipo enquete pedagógico, que obteve mais de 95 % de índice de aprovação. Neste mesmo ano recebemos no Centro de instrução todo o efetivo em instrução do Batalhão Escola de Pronto Emprego da Força Nacional com resultados positivos e marcantes tanto para a PMGO como para o FN. Um ano emblemático, pois pela primeira vez houve instrução de tiro com praticamente 100 % do efetivo da PMGO. Lançamento do livro de minha autoria: A qualificação do operador de segurança pública.
No ano seguinte em 2010 foi lançado o manual técnico: Manual do instrutor de tiro com coautoria com a coordenação, os instrutores e instruendos do VI CIT/2010. E houve a revisão da doutrina do POP passando de Uso Escalonado da Força para a designação como Uso Seletivo da Força, incluindo mais procedimentos, dispositivos e equipamentos de baixa letalidade, baseada nas experiências de aplicação no serviço operacional e de aplicação de oficinas de vivenciamento durante instrução, em sintonia com a Diretriz Nacional do Uso da força. Organizador do I Seminário de instrutores de tiro no âmbito da PMGO. Em 2010 fui também coordenador do VI Curso de Instrutor de Tiro. Finalmente consagrei-me campeão por equipe na primeira prova internacional de tiro nos I Jogos Ibero Americanos PM e BM ocorrida em Manaus no estado do Amazonas, bem como foi palestrante do I Congresso Nacional de Instrutores das polícias militares do Brasil em Porto Alegre/RS. Recebi reforços importantes para o Centro de Instrução, de um lado a experiência, seriedade e a competência do Capitão Renato B. Carvalho, e ainda aliado à juventude e o potencial do 1º Ten Carlos M. Martins.
Em 2011 participei como palestrante do I Seminário de Segurança da Feira Latino Americana de Segurança – LAAD, no Rio Centro, com a exposição do tema: O uso de técnicas e tecnologias como instrumento de qualificação do policial para o emprego do uso da força. A experiência da PMGO com o marcador "paintball" nas instruções de oficinas de vivenciamento. Também recebi a incumbência de ser organizador do II Congresso Nacional de Instrutores das polícias militares do Brasil concomitantemente ao IV Simpósio de material bélico e I Open de tiro da sociedade nacional de instrutores de tiro policial. Ainda no ano de 2011 recebemos um efetivo da Força Nacional no Centro de Instrução da PMGO.
Somam-se, até os dias atuais, mais de uma centena de certificados e diplomas oriundos de cursos, estágios, palestras e participações esportivas, fruto da busca contínua da formação qualificada e voltada a docência. Também registro a atividade como docente de praticamente todos os cursos no âmbito da corporação e fora dela, tais como: cursos de formação de soldados, formação de cabos, formação de sargentos, formação de oficiais, curso de especialização em gestão em segurança pública, curso superior de polícia, curso de aperfeiçoamento de sargento, curso de habilitação de oficiais de administração, curso de operações de Rotam, curso de patrulhamento tático, curso de gerenciamento de crises, curso para a força nacional, instrução para o Ministério Público estadual, instrução para o judiciário estadual, instrução para o SENASP, tutoria do ensino à distância EAD/SENASP, curso de gerenciamento em conflitos agrários, curso método Giraldi, curso para estabelecimentos prisionais, Curso para multiplicadores do POP, Estágio de habilitação operacional, entre tantos outros.
Posso elencar inúmeros triunfos alcançados em decorrência da lida com o “tiro” em minha vida, em especial a inquietação para o aprimoramento técnico profissional continuado o que levou ao estudo pormenorizado de doutrinas, metodologias, armamentos, equipamentos, munições, legislação entre muitos outros. Tudo foi canalizado para o benefício direto à profissão que exerço e me trouxe a vantagem de ter a oportunidade ímpar de compartilhar o sucesso com todos os alunos, mestres e companheiros com que tive a honra de conviver nesta longa estrada.
Num campo mais subjetivo acredito que o “tiro” acabou por se transformar em um “amuleto de proteção e da sorte” que me acompanhou na maioria quase absoluta dos momentos que vivi, tanto em meus triunfos, como também ao proporcionar-me perseverança nas situações menos felizes, como a ocorrida em confronto onde fui alvejado, mas que mesmo nestes, graças ao que pude extrair de meu talento, logrei manter-me vivo para contar toda a história. Tudo o que vivi por si só, seria o suficiente para valer a pena em tudo que passei e em que investi. Mesmo com os muitos obstáculos não transpostos, e embora muitos dos projetos doados para o benefício da corporação, não terem decolado, ainda assim, valeu o esforço e o conhecimento adquirido durante a sua elaboração.
Dentro da maturidade que alcancei posso afirmar com convicção que o contato profundo que tive com o tiro, seja como lazer, esporte ou profissão, tem uma grande importância na formação de minha personalidade e contribuiu sobremaneira para a formação do ser humano que sou. Sou muito grato pela experiência ímpar que tive a oportunidade de viver.
A história ainda não para por aqui! Há ainda uma longa etapa a ser construída. Com certeza, nas novas missões estarão presentes os resultados de toda representação do “tiro” para minha vida. Sonho em sair pelo portão da guarda da academia de polícia da mesma forma íntegra com que um dia entrei. Será o fechamento com chave de ouro de uma importante e longa fase que vivi.
Por fim, estou convicto em afirmar que a representação do “tiro” para mim transformou-se numa bandeira que tem me acompanhado ao longo de muitos anos, desde a tenra idade, relatando todo o esforço fruto de uma paixão incondicional e desejo de ver ainda em minha geração a corporação alçar voos maiores, apesar das limitações de toda ordem. Meu contentamento é ter contribuído para a promoção de um alicerce seguro, entre tentativas resultantes em erros e acertos, construções e desconstruções, idas e vindas, mas, sobretudo ter a convicção de que alguns significativos passos rumo à qualificação foram dados, porém, tenho a serenidade e a consciência de que ainda há muito por ser feito: o desafio está lançado às atuais e futuras gerações de profissionais conscientes de seus deveres e com aptidão para o “tiro”.
Quem sabe neste caminho eu já tenha alcançado outro sonho, o de ter encontrado um(s) substituto(s)? Com a palavra os integrantes do Centro de Instrução da PMGO e todos os instrutores de tiro que tive a “honra” de formar nestes últimos anos.
Sim. Valeu a pena!
BRASIL!!!!!!!!!!!
Em Goiânia-GO., maio de 2011.
Fonte e Autor: Alexandre Flecha Campos é atualmente comandante do CIPMGO e instrutor de tiro da PMGO.